terça-feira, 25 de junho de 2024

O que é socialização e como ela acontece no nosso dia a dia

Em qualquer sociedade, seja ela simples ou complexa, os indivíduos interagem seguindo certas regras e normas, formando assim um grupo. A Sociologia utiliza um conceito fundamental para estudar o processo pelo qual os indivíduos constituem a sociedade e são moldados por ela: o de socialização.

O processo de socialização inicia-se na família, passa pela vizinhança e pela escola, e continua através dos meios de comunicação. Envolve a convivência com os moradores do bairro, os membros de uma religião, o grupo que frequenta o clube ou participa das festas populares, e os habitantes da cidade onde se nasce ou vive. A imagem mais representativa desse processo é a de uma vasta rede formada por relações sociais que se entrelaçam, compondo diversas outras relações até constituírem a sociedade.


Cada indivíduo, ao integrar uma sociedade, insere-se em múltiplos grupos e instituições que se cruzam, como a família, a escola e a igreja. Assim, o fio condutor parece interminável, criando uma complexa rede de relações onde cada pessoa mantém sua individualidade. Dessa forma, cada um vive suas próprias experiências, que podem ser semelhantes ou distintas das experiências de outras pessoas..

Toda sociedade precisa estabelecer ao longo de sua existência certas normas sociais que proporcionam unidade, favorecem a diversidade e dão sentido à vida em grupo. Ao nascer, o indivíduo entra em um mundo já estruturado, com o qual inicialmente se relaciona de maneira estranha. A criança sente frio, calor, conforto, desconforto, sorri e chora, começando assim a interagir e a conviver com o mundo externo. Nos primeiros meses de vida, aprende a conhecer seu próprio corpo, observando e tocando partes dele ou olhando-se no espelho. Nesse estágio, ainda não se reconhece como um indivíduo distinto, pois não domina os códigos sociais; é apenas o “bebê”, uma entidade genérica.

Com o tempo, a criança começa a perceber que existem outros elementos ao seu redor: o berço (se o tiver), o chão (que pode ser de terra batida, cimento, tábuas ou mármore com tapetes) e os objetos que compõem o ambiente em que vive. Nota também a presença de outras pessoas – pai, mãe, irmãos, tios e avós – com as quais precisará interagir. Descobre que há outros indivíduos, com nomes como José, Maurício, Solange e Marina, que são chamados de amigos ou colegas, e começa a diferenciar as pessoas da família das demais. À medida que cresce, descobre que existem ações permitidas e proibidas. Posteriormente, compreenderá que essas permissões e proibições são determinadas pelas normas, valores e costumes do grupo, das classes e da sociedade a que pertence.


No processo de explorar o mundo, a criança percebe que alguns dias são diferentes dos outros. Em certos dias, os pais não saem para trabalhar e passam mais tempo em casa. Nesses momentos, ela assiste mais à televisão, faz passeios em parques ou outros lugares. Em algumas dessas ocasiões, pode também visitar templos ou igrejas. Durante os demais dias da semana, ela vai à escola, onde encontra outras crianças da mesma idade e também outros adultos. A criança começa a compreender que, além da casa e do bairro onde vive, existem outros lugares, alguns semelhantes ao seu ambiente e outros bastante diferentes; alguns próximos e outros distantes; alguns grandes e outros pequenos; alguns luxuosos e outros simples ou até miseráveis.

Ao assistir à televisão, utilizar a internet, ler um livro ou viajar, a criança percebe que existem cidades grandes e pequenas, antigas e modernas, bem como áreas rurais com poucas casas onde são cultivados os alimentos que ela consome. Aos poucos, ela aprende que cidades, zonas rurais, florestas e rios fazem parte do território de um país, que geralmente é dividido em unidades menores (no Brasil, chamadas de estados). Durante essa "jornada" de crescimento, a criança descobrirá que existem continentes, oceanos e mares, e que tudo isso, junto com a atmosfera, forma o planeta Terra, que por sua vez pertence a um sistema maior, o sistema solar, que está integrado em uma galáxia.

Esse processo de convivência com a família e os vizinhos, de frequentar a escola, de ver televisão, de passear e de conhecer novos lugares, coisas e pessoas, compõe um universo multifacetado no qual a criança vai se socializando. Além de aprender sobre coisas e lugares, ela também vai internalizando palavras, significados e ideias, absorvendo, assim, os valores e o modo de vida da sociedade a que pertence.

Compreender a sociedade significa reconhecer as muitas diferenças no cotidiano dos indivíduos e prestar atenção a elas. É muito distinto nascer e viver em uma favela, em um bairro rico, em um condomínio fechado ou em uma área do sertão nordestino sujeita a longos períodos de seca. Essas desigualdades resultam em formas diferentes de socialização.

Ao discutir as diferenças, é fundamental relacioná-las ao contexto histórico. A socialização de hoje é diferente da dos anos 1950. Naquela época, a maioria da população vivia em áreas rurais ou pequenas cidades. As escolas eram pequenas e tinham poucos alunos. A televisão estava começando no Brasil e seus programas eram vistos por poucas pessoas. Não havia internet e a telefonia era precária. Ouvir rádio era a principal forma de obter informações sobre o que acontecia em outras partes do país e do mundo. As pessoas se relacionavam quase exclusivamente com quem vivia próximo e estabeleciam fortes laços de solidariedade. Escrever cartas era muito comum, pois era a maneira mais prática de se comunicar à distância.
Ao longo da segunda metade do século XX, os avanços tecnológicos nos setores de comunicação e informação, o aumento da produção industrial e do consumo e o crescimento da população urbana provocaram grandes transformações em todo o mundo.

Em certos casos, mudanças econômicas e políticas resultaram na deterioração das condições de vida e na desorganização social, levando a situações desastrosas. Em vários países do continente africano, milhares de pessoas morreram de fome ou em guerras internas, algo que ainda ocorre. Na antiga Iugoslávia, na Europa, grupos étnicos se envolveram em conflitos que misturavam questões políticas, econômicas e culturais. Esses grupos, com ou sem o apoio de outros países, enfrentaram-se durante muitos anos em uma sangrenta guerra civil. Nascer e viver nessas condições é completamente diferente de viver no mesmo local em paz e tranquilidade. A socialização das crianças que crescem em uma situação de "guerra permanente" (quando conseguem sobreviver) é profundamente impactada.

Mesmo considerando essas e outras inúmeras diferenças, geralmente há um processo de socialização formal, conduzido por instituições como a escola, a Igreja e o Estado, e um processo mais informal e abrangente, que ocorre inicialmente na família, na vizinhança, nos grupos de amigos e através dos meios de comunicação.

O ponto de partida é a família, o espaço privado das relações de intimidade e afeto, onde geralmente se encontram compreensão e refúgio, apesar dos conflitos. É nesse ambiente que se aprendem as normas e regras de convivência e a lidar com a diferença e a diversidade. Como muitos dizem, é o lugar onde as pessoas são educadas.

Os espaços públicos de socialização incluem todos os outros lugares frequentados pelos indivíduos e seus grupos. As relações nesses espaços são diferentes, pois envolvem a convivência com pessoas muitas vezes desconhecidas. Nos espaços públicos, não é possível fazer muitas das coisas permitidas em casa, sendo necessário observar as normas e regras específicas de cada situação. Nos locais de estudo e atividades religiosas, por exemplo, o silêncio é essencial; na escola, onde ocorre a chamada educação formal, exige-se pontualidade nos horários de entrada e saída, entre outras regras.

Além disso, existem agentes de socialização presentes tanto nos espaços privados quanto nos públicos: os meios de comunicação, como o cinema, a televisão, o rádio, os jornais, as revistas e os aparelhos eletrônicos (conectados à internet ou não), esses talvez sejam os meios de socialização mais eficazes e persuasivos.

Parafraseado de:
Tomazi, N. D., & Rossi, M. A. (2016). Sociologia para o ensino médio: Volume único (5ª ed.). São Paulo: Saraiva.

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